segunda-feira, 5 de outubro de 2009

(ilustração de gustavo aimar)


Sobre a 'alegada hipertrofia da individualidade entre a juventude actual'
(só porque os títulos demasiado grandes dão aquele ar intelectual de tese),
na Super Interessante deste mês:

"(...) se há algo que representa essa alegada hipertrofia da individualidade entre a juventude actual é a proliferação dos blogues. Os diários digitais transformaram-se na forma predilecta de falar de si próprio enquanto se comunica com os outros de forma totalmente livre. John Hiler, editor do Microcontent News, uma publicação online sobre notícias da blogosfera, afirmava: "Existe algo no formato que estimula um desenvolvimento quase canceroso do nosso ego." (...)

não sei se esta 'alegada hipertrofia da individualidade entre a juventude actual' pertence só à juventude, ou só à juventude actual, ou a nenhuma das duas.
há qualquer coisa que mexe comigo quando ouço expressões como 'a juventude de hoje' - uma criança, um adolescente, um jovem adulto, um adulto ou um idoso nunca deixam de ser a classe representativa da sua época - e com todas as condicionantes que essa época implica, uma criança não deixa de ser uma criança, e o mesmo se aplica ao resto.
de resto, quando se fala da ingenuidade com que os adolescentes/jovens adultos de hoje se arriscam a investir em cursos que 'não dão nada': não acredito que alguém que tenha crescido, como eu, a ouvir que a inflação das qualificações não vai parar de subir, que vai ter de trabalhar a recibos verdes para ganhar experiência, se, com muita sorte, conseguir emprego depois, e que, em suma, teve um azar dos diabos para ter aparecido no mercado de trabalho logo quando todas as hipóteses de sucesso se esgotaram; não acredito que se invista por ingenuidade, a não ser que a ingenuidade seja uma forma de coragem.
e desse ponto de vista, quem agora não precisa de um desenvolvimento quase canceroso do seu ego para tirar um curso de design, de cinema, de psicologia ou de culinária?

e que bom que, (com mais ou menos ego), entre os filhos da geração que nunca deixou de chorar o sonho imperfeito de Abril, ainda há gente corajosa.

1 comentário:

  1. é da maneira que vou ler a super deste mes, que ainda n tive tempo de olhar pra ela sequer.

    eu gosto do meu ego, e ou muito me engano ou ja gostava (talvez até demasiado) dele antes de ter um blog.

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