sábado, 21 de novembro de 2009




o meu natal começou hoje, ainda que com todos os preparativos, às duas da manhã para ser mais exacta. e começou bonito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

(ilustração de rachel caiano)


"Tentar, falhar, falhar de novo, falhar melhor". Beckett

quarta-feira, 18 de novembro de 2009



Espalhem a notícia, de Sérgio Godinho

fossem todos os dias de outono assim.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A pedido de muitas famílias, o Nelson (finalmente!) enviou-me o texto que escreveu para a cerimónia dos Finalistas, e que leu nesse dia, perante gargalhadas de pais, irmãs, professores e funcionários - com o delírio dos alunos mais antigos, claro.
Conheço o Nelson desde os dois anos, foi o meu primeiro namorado a sério (com toda a seriedade com que se namora quando temos quatro anos) e um amigo de sempre. Está agora em Jornalismo, e confesso que se torna inevitável imaginá-lo daqui a uns anos com um cantinho de crónicas singulares, provavelmente muito dentro do género do que escreveu aqui.
Aqui fica um dos textos mais brilhantes que li e que nunca perde a graça, por muitas vezes que o leia: porque por muito sui generis que seja, uma casa nunca deixa de ser a nossa casa; e porque ainda dou por mim a procurar um pólo na gaveta antes de ir para a faculdade ou a dizer que vou 'para o recreio'.
Dedicado ao ano que saiu do Colégio no ano 2007/2008, e dum modo muito particular a todos os que partilharam tantos anos que ainda se conseguem lembrar da irmã Joaquina a sovar metade da turma, (todos em fila indiana para apanhar com o apagador do quadro), ou do tempo em que o recreio tinha um galinheiro e um lago com peixinhos:


Monólogo de um reabilitado


Tenho que avisar que se nas filas de trás não me conseguirem ouvir não importa, as filas de trás não serão tomadas em consideração.

No entanto se neste momento alguém estiver a gravar isto, não se esqueçam que eu recebo 20 % por cento da venda de DVDS a 5 e 99 euros, legendas em dinamarquês, inglês, e mandarim, documentário detrás das cenas e edição de coleccionador.

Quero antes de mais revelar uma coisa, algo que me está a roer por dentro e que consegui guardar durante muito tempo. A verdade é que agora que acabei o 12º ano posso dizê-lo finalmente, a verdade é que... Não sei ler. Era algo que eu queria partilhar convosco neste momento especial, a verdade é que eu sou uma fraude, todos aqueles testes, perguntas, idas ao quadro, tudo inventado, tudo copiado. Eu sou a prova viva de que o ensino português resulta e sinto-me capaz de enfrentar o mundo agora, vou é provavelmente ter algumas dificuldades.

Vou passar agora a fazer uma série de perguntas pessoais à gente da primeira fila, é só descer do palco...Na, tou a brincar é só para vos assustar, é preciso também impor respeito ao público, não se preocupem.

Vou agora descrever-vos a experiência tenebrosa que um jovem de 6 anos enfrentou quando foi incluído nesta instituição, nada de negativo, pronto talvez algumas coisinhas. A começar pelo facto de que mal chego na primeira aula da 1ª classe me prometerem que ia ser enviado para a sala dos golfinhos, não é a minha surpresa quando me enviam para a sala dos Cogumelos, confesso que fiquei bastante irritado quer dizer os Golfinhos ainda é aquela coisa macha saltam na água e tudo e riem-se de maneira fofinha, agora Cogumelos vamos lá ver, a única coisa de fixe num cogumelo é se for venenoso ainda pode dar cabo de um caçador ignorante e mais nada.

De resto esta instituição já na altura nos idos anos 90, assemelhava-se de maneira estranha a uma instituição prisional, muros, arame farpado, seguranças de negro, a falta de cor por motivos religiosos um pouco tenebrosos, campos de futebol interior, digamos que é bastante parecida com Custóias só que vá lá aqui ainda nos deixavam fazer picotados e desenhos com massas, e em vez de droga havia tazos. Mas havia chibos claro, a gente até dizia com aquele jeito infantil de dizer “és chibo morres”; pronto tá bem, não era bem assim, no máximo roubávamos-lhe os tazos e o bolicao.

Quando aos seguranças, as nossas queridas irmãs acredito que tivessem boas intenções mas a verdade é que me lembro perfeitamente de uma vez quando caiu um miúdo das escadas, 5 minutos depois já se dizia que tinha sido uma irmã a empurrá-lo, e ainda por cima riu-se
a sacana. Mas isso são coisas de miúdos, já somos pessoas maduras, mas ainda tenho algum medo de descer as escadas com a irmã Dulcida à beira.

Tínhamos um bonito uniforme todo verdinho e cor-de-rosa que não hesitei em usar para remendar a toalha da mesa, só para me lembrar destes bons tempos à refeição.

Jogávamos futebol num campo de areia e granito que era uma maravilha para cairmos e nos esfolarmos todos, e claro só íamos à enfermaria em caso de fractura exposta conhecendo as experiências que lá se faziam com quem se queixava.

Quanto ao facto de ser um colégio religioso, nada contra, mas infelizmente este vosso criado é um ser não baptizado, a minoria silenciosa, mas era giro, não havia discriminação, bem só talvez quando era para nos confessarmos e comer a hóstia. Lembro-me de que sempre que íamos a uma dessas missas o discurso era sempre o mesmo da irmã Joaquina, “ Ok meninos todos para aqui para o lado, vamos lá, deixem de ser bebés.” E virava-se para mim e dizia”Pois é Nelson, estou haver que ainda temos o pequeno problema, vai ali para o cantinho vai”. “Mas oh irmã eu gostava de me confessar” “Não tás a perceber pois não? vai lá para o cantinho” “Mas o Tiaguinho agrediu um professor e tá ali a confessar-se” “Pois, mas o tiaguinho é um filho de Deus, vai lá, vai lá” e eu lá ia para a bancada do canto, que com a irmã Joaquina não se brinca, a pensar como é que entrava pró clube.

Então iniciei uma busca pessoal da fé, agora quando a minha mãe me perguntou se queria bandas desenhadas do Tio Patinhas ou do Pato Donald eu dizia que queria era a Bíblia, e lá ficava a minha mãe a perguntar-se em que é que errou e que desenhos animados andava o puto a ver. Mas a verdade, como sei agora, é que aprendi muitas coisas úteis com o Tio Patinhas, nomeadamente que explorar a família para fins lucrativos é fixe e recomendável.

Recebi então uma Bíblia ilustrada muito bonitinha e fiquei um pouco assustado ao verificar que Deus era um pouco como aqueles vilões do Dragonball, esta aldeia está entregue ao pecado, pimba bola de fogo em cima, um livro só um pouco pesado e talvez com personagens a mais.

Mas a minha vontade de me integrar naquele grupo exclusivo era tanta que até me levou a esgueirar para uma aula de catequese só para ver o que era. Fiquei então à espera de grandes revelações, quando a catequista nos diz que o trabalho de hoje era fazer uma banda desenhada de Jesus a curar os leprosos. Quer dizer, era isto que eu tanto cria? Como não sabia como era um leproso simplesmente fiz um monte de homenzinhos verdes a quem Jesus chegava e devolvia a cor, material muito inspirador.

Mas continuando sobre a escola, é verdade que foram muitos os bons tempos nessa altura da batinha, as aulas de música que acabavam com tudo à luta com as flautas, a casinha que era tipo o mercadozinho tradicional onde comíamos bolas de Berlim, esmagada pela vinda do bar tipo MacDonalds. Os dias de chuva no pavilhão de pedra, a nossa própria capoeira, os Carnavais meio loucos, os magustos que acabavam sempre com uns quantos feridos de arremessos de castanhas assadas. Um famoso Dia Mundial da Criança em que ao iniciar o cortejo da imagem de Maria, tudo preparado, levanta-se a estátua dentro da missa, e opah em frente, quando esta dá uma cabeçada no vão da porta e se parte em mil pedaços pelo chão, a mim parecia-me mau presságio, e não estava muito longe da verdade. Pois substituída Maria por uma versão mini e recomeça o cortejo pela escola, quando acaba toda a turma a escrever verbos na sebenta na sala enquanto olhávamos para as outras turmas pelas janelas que faziam aqueles joguinhos tão giros, por alguém ter gritado “Viva o Porto, Pentacampeão”, nos idos tempos do Jardel que aliás chegou a vir uma ou duas vezes a esta instituição; aliás estava eu a pensar fazer uma petição em prol de trazer cá de novo o Jardel que como todos sabemos está a passar por maus bocados e precisa do nosso apoio.

Tudo traumas saudáveis.

Foram bons tempos que ficarão para sempre marcados em toda a gente que cá está há mais tempo e que se lembra do lado antigo e aqueles que foram chegando. A verdade é que como todas as prisões acabamos por também nos afeiçoar quando lá estamos há mais tempo. Todas as viagens de estudo, celebrações, caminhos, brincadeiras variadas, vem tudo junto até este dia.

Quero agradecer a todas as pessoas que tornaram isto possível.

A irmã Aurora
A irmã Joaquina e todas as outras as outras bem amadas irmãs
As senhoras da cantina capazes de tanto fazer refeições que faziam toda a gente atropelar-se, crianças e velhinhos incluídos, só para poder comer o dobro e o triplo da dose de piza e frango no churrasco, como de fazer refeições que faziam toda a gente ir devagarinho e até dar o lugar. Aliás aproveito para fazer uma pergunta pertinente à direcção, podem dizê-lo agora que somos todos gente madura.
Afinal o que é que eram aqueles filetes de pescada? Queremos a verdade nua e crua, a minha teoria é que pegavam em pedaços de esferovite contraplacado, deitavam um pouco de manteiga só para dar um gostinho e lá faziam aquilo em quantidades maciças.
Ao senhor Neves
A todos os professores do 1º e 2º ciclo
A todas as vigilantes que tantos nos ajudavam a não nos magoarmos ainda mais ou até afogar-nos nas visitas à praia
A todos os jesuítas que cá vinham presentear-nos com canções e que pareciam vir directamente de uma clínica de toxicodependência, tão grandes eram as barbas e cabelo.
E àquele padre que quando uma vez, de maneira discreta, consegui ir confessar-me e a quem perguntei como podia ser melhor pessoa me olhou directamente nos olhos e me disse que a primeira coisa que devia fazer era pedir aos comunas dos meus pais que me baptizassem.

O show acabou, vai cair o pano, vocês foram todos grandes actores e desejo-vos o melhor, todos o merecem por ter sobrevivido. Obrigado e boa noite.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

(ilustração de raquel marin)


fazes das minhas costas o mapa do mundo.

domingo, 15 de novembro de 2009

(ilustração de josh cochran)

quem disse que o caótico não pode ser belo?

nunca uma madrugada desceu tão abruptamente.