"Está a ver o filme? Cecil B. DeMille. Gary Cooper. Meu Deus, que coisa tremeda, está tudo a postos: vão fazer-lhe uma audição para o papel da enfermeira do Dr. Wassell. Uma das enfermeiras, pelo menos. E então zás! Toca o telefone - agarrou num telefone no ar e levou o bocal ao ouvido. - «Daqui fala a Holly», diz ela. «Querida, a tua voz parece-me muito longe», respondo eu. «Estou em Nova Iorque», diz ela. «O que raio estás tu a fazer em Nova Iorque quando é domingo e amanhã tens uma audição?» pergunto. «Estou em Nova Iorque porque nunca estive em Nova Iorque», diz ela. «Tu põe-te num avião e volta já para cá», grito-lhe eu. «Não quero», responde ela. «Qual é a tua, boneca?», pergunto. «Temos de querer para fazermos bem, e eu não quero», diz ela.
«Bem, que raio queres tu?», pretendo eu que ela me diga. «Quando descobrir hás-de ser o primeiro a saber», diz ela. Percebe o que eu quero dizer: ela está-se borrifando."
Boneca de Luxo, Truman Capote
juro que um dia destes vou mesmo para a minha NYC.
sábado, 27 de novembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
nas ruas correram rios enquanto uma bola descia encostada ao passeio, vinda de cima sem se saber bem de onde - 'atrás de uma bola vem sempre uma criança', mas a criança não chegou e todos nos recordamos de como foi fácil perder a infância.
neste instante desceste com a igreja em pano de fundo e todas as gaivotas choraram.
depois conversávamos, todos os poetas vivem fechados no quarto, mas passou uma senhora por mim e disse
'hoje, o estado das coisas é a eternidade'
por isso lembra-te que apesar de toda a adultez não há dia em que os milagres se esqueçam de sair à rua.
e parabéns pescador-amor
neste instante desceste com a igreja em pano de fundo e todas as gaivotas choraram.
depois conversávamos, todos os poetas vivem fechados no quarto, mas passou uma senhora por mim e disse
'hoje, o estado das coisas é a eternidade'
por isso lembra-te que apesar de toda a adultez não há dia em que os milagres se esqueçam de sair à rua.
e parabéns pescador-amor
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
meu primeiro grande amor, não te esqueci,
"A amnésia é má para as pessoas e também para as sociedades. Temos que saber quem somos para viver com a consciência de estar vivos. Sigamos perguntando e procurando.", (Saramago in Público, Madrid, 20 de Novembro de 2008)
mas a vida urge bem perto de mim, e não há dia em que não te peça baixinho 'a consciência de estar vivos', para que toda a busca dos sonhos diurnos não cesse.
dorme bem
"A amnésia é má para as pessoas e também para as sociedades. Temos que saber quem somos para viver com a consciência de estar vivos. Sigamos perguntando e procurando.", (Saramago in Público, Madrid, 20 de Novembro de 2008)
mas a vida urge bem perto de mim, e não há dia em que não te peça baixinho 'a consciência de estar vivos', para que toda a busca dos sonhos diurnos não cesse.
dorme bem
terça-feira, 24 de agosto de 2010
cheguei de férias.
o porto chovia e havia um nevoeiro denso, eu pensei: ainda bem, setembro está a chegar.
mas hoje a luz encheu a casa e pensando bem, falta-me curar o pé, sair por essas ruas enquanto não tenho horários, passar tardes a ler em cafés bonitos, talvez acampar no gerês uns dias, matar todas horas que não tive com o meu amor.
pensando bem, quero é ser feliz enquanto é tempo.
o porto chovia e havia um nevoeiro denso, eu pensei: ainda bem, setembro está a chegar.
mas hoje a luz encheu a casa e pensando bem, falta-me curar o pé, sair por essas ruas enquanto não tenho horários, passar tardes a ler em cafés bonitos, talvez acampar no gerês uns dias, matar todas horas que não tive com o meu amor.
pensando bem, quero é ser feliz enquanto é tempo.
terça-feira, 27 de julho de 2010
acho que me apaixonei este verão:
"(...) Durante a actividade sexual, o inconsciente ressoa, abrindo o seu caminho em cada fibra dos impulsos nervosos e da sensibilidade. A imaginação torna-se carne, ou - na fórmula definitiva de Shakespear - "deita corpo" (bodies forth).
Em contrapartida, a carne imagina e clama. Se podemos falar de encarnação, é bem aqui."
(Steiner, in Os livros que não escrevi)
"(...) Durante a actividade sexual, o inconsciente ressoa, abrindo o seu caminho em cada fibra dos impulsos nervosos e da sensibilidade. A imaginação torna-se carne, ou - na fórmula definitiva de Shakespear - "deita corpo" (bodies forth).
Em contrapartida, a carne imagina e clama. Se podemos falar de encarnação, é bem aqui."
(Steiner, in Os livros que não escrevi)
"também vais viajar?"
"não, vim só despedir-me" - (silêncio)
"eu vou" - (sorriso)
- (silêncio) -
temos sempre mais saudades do que nunca chegámos a conhecer.

(fotografia de inês d'orey, "ilhéu, graciosa")
"não, vim só despedir-me" - (silêncio)
"eu vou" - (sorriso)
- (silêncio) -
temos sempre mais saudades do que nunca chegámos a conhecer.

(fotografia de inês d'orey, "ilhéu, graciosa")
sábado, 17 de julho de 2010
todos os dias caio, tropeço um bocadinho, todos os dias a distância do chão é a mesma, mas há dias em que estou mais alta, ou mais baixa.
todos os dias o mundo é um lugar estranho.
todos os dias o mundo é um lugar estranho.
(ilustração de carmen segovia)
quinta-feira, 15 de julho de 2010
raiva deste homem - gustavo aimar.


não o conheço, nunca falei com ele. só lhe vi imagens.
sempre que vejo imagens dos trabalhos dele sinto-me engolida subitamente por uma vontade gigante de um dia ter uma casa mais ou menos no meio do nada, ou mais ou menos no centro do mundo, em que as paredes serão altas e muito brancas e tão velhas que terão estuques victorianos e românticos a contrastar com os móveis de madeira escura, simples e gastos mas com aquele cheiro que só as casas antigas e quentes guardam.
nesta casa as paredes iam estar cheias: de fotografias, posters, quadros. se algum dia tivesse dinheiro para uma aguarela do josé rodrigues ou um quadro da armanda passos ou, em última análise (e só se fosse mesmo rica ou mesmo sortuda), uma gravura da paula rego, já não era mau. mas o que gostava mesmo era de ter as paredes repletas das imagens que preenchem as pessoas que eu amo.
neste sonho cabe também uma imagem do 'eudaquiamuitosanos', (mas que se calhar não são assim tantos, porque já tenho vinte e é estranho e custa dizê-lo), que tira fotografias, aprendeu a revelá-las num cubículo pequeno e escuro dessa casa de janelas altas, que reaprendeu a pintar, voltou a descobrir o prazer das colagens e do desenho dos corpos e das rugas, mas que sobretudo: vive a ilustrar livros.
há um 'eudaquiamuitosanos' dentro de mim, sempre dentro de mim, que vive no sonho de abrir mundos dentro de livros.
o 'eudeagora', num curso de palavras e pessoas e raras imagens nas narrativas, não sabe se é possível casar-se com o 'eudaquiamuitosanos', mas gostava.
gostava muito.
gostava muito.
entretanto, enche-me a raiva de amor:

sábado, 10 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
sei que te falta a ilha na casa, os pés negros de areia e a cabeça de milhafre.
mas todo o mar está perto.
e toda a casa te devora com a saudade, deixa que pelo menos o sal te saiba bem.
estou aqui, não sou uma ilha mas sou um pedaço de terra, por isso deixa, deixa que pelo menos o sal te saiba bem.
(ilustração de violeta lopiz)
mas todo o mar está perto.
e toda a casa te devora com a saudade, deixa que pelo menos o sal te saiba bem.
estou aqui, não sou uma ilha mas sou um pedaço de terra, por isso deixa, deixa que pelo menos o sal te saiba bem.
(ilustração de violeta lopiz)
sexta-feira, 2 de julho de 2010
hoje ia no metro e vi uma rapariga vestida de preto, encolhida sobre si mesma com uma camisola justa de alças e os cabelos escuros também, alguma tristeza.
não me lembro do preciso momento em que percebi que aquela barriga grande trazia alguém lá dentro. sei que de repente entendo movimentos por dentro do tecido negro, qualquer coisa com extremidades mais redondas e outras pontiagudas, um bicho cheio de vida a mexer-se lá dentro como numa cama circular, rodando sobre si mesmo como num carrossel visto de cima.
já assisti a mulheres de barriga, mas esta foi a primeira vez que vi, em vez de sentir, algo a mexer-se. e percebi as extremidades, o movimento, as superfícies de diferentes proporções e velocidade com que podemos ir de um lado ao outro da barriga da nossa mãe.
o berço mais primitivo.
vida.
no metro, de manhã, numa manhã como as outras.
vida, e dar vida, e ser vida é mesmo qualquer coisa que chama "o tempo mais mítico".
quarta-feira, 23 de junho de 2010
domingo, 16 de maio de 2010

(ilustração de gustavo aimar)
trabalho, trabalho, e nada mais que trabalho - excepto talvez um bom filme.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
"Quando te afastas do fogo, o fogo continua a dar calor, mas tu sentes frio."
do equinócio, pelo 'bom dia' da ana luísa.
entretanto, outro calor:
quarta-feira, 14 de abril de 2010
domingo, 11 de abril de 2010
The way we fill our everyday life with superficial conversation and routine shows that we often assume we are going to live forever and can afford to waste day after day.
Heidegger
vaguear horas pelo porto com as pessoas que amamos, mais do que ser superficial ou inútil, é ser imortal. nem que por uma noite.
sábado, 10 de abril de 2010
«"Aniversário, claro", disse eu.
"Vamos celebrar a hora em que Rae nasceu e antes da qual ela ainda não existia. Que dificuldade há em perceber isso?"
A Águia colocou as suas asas na posição de voo de mergulho e fez uma aterragem suave na areia do deserto.
"Uma época anterior à vida de Rae?
Não te parece que a vida de Rae começou antes de o tempo existir?"»
Richard Bach, Não há longe nem distância
quinta-feira, 8 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
segunda-feira, 29 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
quarta-feira, 24 de março de 2010
sábado, 20 de março de 2010

Nothing is more extreme than the aim for truth – the fragility,
degradation, and transformation of the body and mind.
(fotografia e texto de filipe canha)

(pijamas, quadro de graça martins)
és mais do que só um homem ou só uma mulher; mais do que o corpo, desejo-te a alma.
quero-te todo, quero-te toda.
sexta-feira, 12 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
segunda-feira, 8 de março de 2010
domingo, 7 de março de 2010

(fotografia de tina berning)
quando saíres vamos coleccionar nomes e frases
e vai ser sempre estranho voltar, como se nunca tivesses ficado.
e vai ser sempre estranho voltar, como se nunca tivesses ficado.
e pergunto, sobreviverei à primavera?
quarta-feira, 3 de março de 2010

(fotografia de Granada, Espanha)
Escolho uma cidade à minha medida.
Guia-nos o sul com remoinhos de pó sobre a estepe;
Renques daninhos, pragas de gafanhotos,
As cintilações faiscantes das ferraduras polidas,
Tudo profetizava - visões
De monge - que eu iria perecer.
Peguei no destino, atei-o à sela;
E agora que estou no futuro, permaneço
Hirto nos estribos com uma criança
Só quero a imortalidade
Para que o sangue flua pelas eras.
De boa vontade daria a vida
Por um lugar seguro e quente,
Não me guiasse a agulha aérea viva
Pelo mundo como a uma linha
Arseny Tarkovsky
"este poema fez-me acreditar na imortalidade", disseste.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
"Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria primeiro. A única regra é: Não pensar, não resistir, não duvidar. Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz ou mais arrumado. Mas não pode ser. O primeiro amor é o único milagre da nossa vida - e não há milagres em segunda mão."
Miguel Esteves Cardoso, in Os meus problemas
valentine's day.
Subscrever:
Mensagens (Atom)